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HiperMemo - Acervo Multimídia de Memórias do ABC da Universidade IMES

DEPOENTE

Nilsen Ribeiro

  • Nome: Nilsen Ribeiro
  • Gênero: Feminino
  • Data de Nascimento:
  • Data de falecimento: 30/09/2007
  • Nacionalidade: 23
  • Naturalidade:
  • Profissão: cantora

Biografia

Nilsen Ribeiro, pseudônimo artístico de Manilce Lalli, foi cantora famosa no ABC e em São Paulo. Formou com o marido o Duo Guarujá, com vários discos gravados com boleros, sambas-canção e músicas sertanejas. Faleceu aos 80 anos.



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Depoimento de Nilsen Ribeiro gravado em 13/08/2004

 Depoimento de Nilsen Mali Ribeiro, 77 anos.

Universidade de São Caetano do Sul, 13 de agosto de 2004.

Núcleo de Pesquisas Memórias do ABC 

Entrevistadores: Rita de Cássia Donato dos Santos e Vilma Lemos

Transcritores: Meyri Pincertato, Marisa Pincertato e Márcio Pincertato.

Pergunta:  Comece falando a data e local de seu nascimento.

Resposta:

Nasci na Lapa, em São Paulo Capital no dia 28 de novembro de 1926.

Pergunta:  Fale um pouco da sua infância, do relacionamento familiar, se tinha irmãos, brincadeiras, como era situação familiar?

Resposta:

Fui criada... Meus avós e pais tinham olaria. Meus pais arrendavam olarias, os pais dele e os pais da minha mãe também. Engraçado ter coincidido.

Pergunta: Ambos eram oleiros em São Paulo?

Resposta:

Em São Paulo. Eu fui criada em olaria. Eram todos de uma família, meus tios, minhas tias e fui criada na olaria até 11 anos. As brincadeiras eram aquelas daqueles tempos. Não é como hoje. A gente brincava, na olaria tem o forno para os tijolos cozinhar. Tem de lotar aquilo para depois fechar e botar fogo. Demorava dias, porque iam fazendo os tijolos e colocando. A gente brincava que eu era a noiva. Eu sempre era a noiva. Tinha aqueles carrinhos de mão para levar os tijolos, então lá subia eu no carrinho, colocava umas flores na cabeça. Eram brincadeiras inocentes. É o que eu me lembro.

Pergunta: E o relacionamento familiar? Havia tempo com os pais, os pais conversavam com os filhos, tinha amor?

Resposta:

Não conversavam. Era só trabalho. Comecei a trabalhar muito nova e meus pais tinham a olaria, tinham muitos empregados  e eu com 11 anos já tinha de ir para o fogão fazer café, as coisas mais fáceis. Era fogão a lenha. Mas era uma vida boa.

Pergunta: A mãe também trabalhava na olaria?

Resposta:

Trabalhava. Meu irmão mais velho também. Eu tinha mais dois irmãos mais novos, que depois um até morreu e ficaram três, e só eu de mulher. O mais velho já trabalhava.

Pergunta: E a escolarização? Ia para a escola?

Resposta:

Ia, fiz até o terceiro grupo apenas, porque meu pai mudava. Olaria era assim, ele arrendava e quando acabava o barro, acabava e ele não ficava ali e ele arrendava olaria em outro lugar. Então, a gente mudava muito. Então, só fiz até o terceiro grupo. Estudei também no Butantã, na escola das cobras. Passava todo dia lá e via aquelas cobras. Hoje tenho um medo de cobra, mas naquele tempo a gente não tinha. Eu e meu irmão íamos para escola e víamos aquelas cobras enroladas, umas nas árvores. Eu morei em Pinheiros também, perto do Butantã, então ia à escola lá. Depois terminei lá mais adiante, quando meu pai arrendou outra olaria, porque meu avô tinha duas olarias e arrendou uma para o meu pai. De lá nós viemos para Santo André.

Pergunta: E como era o relacionamento professor/aluno quando você estudou?

Resposta:

Minha professora chamava-se dona Joaninha. Era muito boa. O que eu aprendi até o terceiro ano me valeu muito.

Pergunta: Havia castigos para os alunos, castigos corporais?

Resposta:

Castigos? Não que eu saiba, para mim nunca teve castigo.

Pergunta: Os companheiros, para os outros colegas?

Resposta:

Não.

Pergunta: E leitura? A professora dava livros para ler ou vocês não liam livros?

Resposta:

Não. Só na aula. Mas eles forneciam o lápis, o caderno.

Pergunta: Quando você veio morar em Santo André, quantos anos você tinha?

Resposta:

Uns 12 anos.

Pergunta: Foi morar onde?

Resposta:

Na Vila Alzira.

Pergunta: Você poderia falar um pouco sobre como era Vila Alzira de quando você chegou lá?

Resposta: O centro era bom, mas a periferia tinha poucas casas, muito campo, rios.

Pergunta: Aos 12 anos você não foi mais para a escola?

Resposta:

Não. Até quando entrei na fábrica no Ipiranguinha, a tecelagem, eu acho que do Moinho Santista...

Pergunta: Aos 12 anos você foi para a tecelagem?

Resposta:

Não. Fui com 14 anos trabalhar. Eu não tinha diploma, porque fiz só até o terceiro ano. Aí eu tive de ir para São Paulo, no palácio do Parque D. Pedro, aonde todo mundo ia lá, fazer as contas. Então eles davam um diploma. Eles davam as quatro contas, e acertei a de somar, dividir, multiplicar e diminuir. Eu acertei e eles me deram um diploma do quarto ano. Eu entreguei na fábrica. Precisava fazer a primeira comunhão, também nunca tinha feito. Lá fui eu no Colégio das Freiras de Santo André e fiz a comunhão para poder entrar na fábrica.

Pergunta: Isso era condição? Eles exigiam isso?

Resposta:

Exigiam.

Pergunta: Como se chamava essa tecelagem?

Resposta:

Eles chamavam de Ipiranguinha.

Pergunta: O que você foi fazer na tecelagem?

Resposta:

Maçaroqueira. Era uma máquina tão grande e eu dava conta.

Pergunta: O que tinha de fazer?

Resposta:

Pôr os rolos do algodão lá para fazer os tubinhos para ir para outra seção. Tinha várias seções até chegar na tecelagem. A minha mãe trabalhava na tecelagem, meu irmão mais velho. Todos na mesma fábrica.

Pergunta: Você trabalhou sempre nessa atividade ou evoluiu dentro da fábrica?

Resposta:

Só fiquei na maçaroqueira.

Pergunta: E lazer? Tinha cinema, bailes, clubes?

Resposta:

Não ia a bailes porque meu pai não deixava. Naquele tempo meu pai era rígido. Era só trabalhar. Ia aos cinemas, às vezes na matinê, porque eu morava em frente ao Cine Carlos Gomes. Morava a uns 50 metros do Cine Carlos Gomes, na Rua Cesário Mota. Para ir ao cinema minha mãe tinha de ir comigo. Ele não deixava a gente sair sozinha.

Pergunta: Nesse emprego na tecelagem, vocês eram registrados em carteira?

Resposta:

Sim. Eu trabalhei 8 anos lá.

Pergunta: E tem lembrança de alguma greve de funcionários?

Resposta:

Não tinha greve não.

Pergunta: E como a música veio para a sua vida, se você tinha uma educação tão rígida por parte dos pais?

Resposta:

Mas eu sempre, desde criança, cantava. Tudo que eu fazia era cantando. Mesmo na fábrica, eu trabalhava cantando. Até uma vez eu estava, antes de entrar na Ipiranguinha, eu estava com 13 anos e meio e entrei em outra tecelagem, onde podia entrar sem ter 14 anos, eu estava cantando e trabalhando e quando eu vi assim, o dono da fábrica estava bem atrás de mim. Eu me assustei e parei de cantar e fiquei com medo. Ele falou: Continue, porque está tão bonito! Eu agradeci, mas fiquei com vergonha. Ele falou: Essa música que você está cantando, você quer dar a letra para mim? Ele era filho do dono e era jogador de futebol. Eu estava cantando uma música do Orlando Silva.

Pergunta: Qual era?

Resposta:

Não lembro qual era. Sei que ele pediu a letra e no outro dia eu trouxe a letra e ele agradeceu e continuei cantando e trabalhando. Trabalhei uns seis meses lá, até fazer os 14 anos para ir para a Ipiranguinha, porque minha mãe e meu irmão trabalhavam lá. Minha mãe era tecelã.

Pergunta: A olaria continuou ou acabou?

Resposta:

Depois que nós viemos para cá acabou.

Pergunta: E seu pai foi trabalhar onde?

Resposta:

Meu pai trabalhava à noite. Ele guardava a fábrica. Tinha um relógio que tinha de marcar.

Pergunta: E namoro e casamento? Teve ou não teve? Como foi isso?

Resposta:

Eu namorei muito.

Pergunta: Escondido?

Resposta:

Lógico, mas eu fui noiva três vezes e as três vezes eu não quis casar. Com 15 anos eu já fui pedida em casamento. Minha mãe não queria. Ela casou com 14 anos e falou que eu não ia casar. Se eles forçassem, talvez até eu casasse, porque eram os pais que mandavam naquele tempo. Eu não casei. Aí conheci o meu futuro e já tinha 22 anos.

Pergunta: A senhora se casou com quantos anos?

Resposta:

Com 23 anos.

Pergunta: Foi com o senhor Armando e a senhora formou a dupla? Como foi formar a dupla?

Resposta:

É uma história tão longa. Eu conheci o Armando numa festinha na casa de uns amigos, que até eram meus vizinhos. Ele tocava banjo naquele conjunto que tinha. Um dia ele me convidou para ir porque falou que tem um moço que canta na Rádio Record e ele tem um conjunto, ele é o crooner do conjunto, vamos lá cantar. Eu nunca tinha cantado com violão. Eu cantava sozinha. Eu fui com a minha mãe, e o Armando estava lá. Ele era meio boêmio, gostava de uma farrinha. Apresentaram-me a ele e ele perguntou se eu queria cantar. Eu falei que nunca tinha cantado com conjunto. Cantei uma música com ele, ele achou o tom para mim e achou legal. Eu canto de dom, porque nunca estudei música. Eu conheço música, componho, mas tudo de ouvido. Cantei, ele gostou. Só que quando ele me viu, ele já ficou gostando de mim. Convidamos para ir a nossa casa, ele foi e aí meu pai já tinha morrido, porque se meu pai estivesse vivo não deixava. Meu pai morreu muito novo, com 45 anos. Ele foi a nossa casa, tomou café, fizemos bolo. Em casa sempre tinha um violão, porque meu irmão mais velho sempre gostava de tocar, arranhava. Ele pegou o violão, ensaiamos aquela música e ele perguntou se eu queria fazer um teste na Record. Eu falei que sim e ele marcou um teste com o diretor da rádio, que era bravo, carrancudo. Cheguei lá com a minha mãe e tudo, ele com a mão para trás, nunca tinha entrado numa rádio e o conjunto começou, dei uma ensaiadinha, ele veio ouvir. Quando comecei a cantar, cantei uma vez só a música, ele mandou parar. Eu pensei que não tinha gostado. Ele falou: Você tem coragem de fazer um programa ao vivo, domingo que vem? Eu falei que sim. Foi assim que começou a minha carreira.

Pergunta: Você se lembra da primeira música que você cantou?

Resposta:

Era um samba "No Banco da Praça". Não sei se lembro.

(Música)

Pergunta: Você formou uma dupla. Como se chamava?

Resposta:

Duo Guarujá, porque foi com o meu marido Armando Castro.

Pergunta: Conta um pouco das apresentações nas rádios locais. Em que rádio você se apresentou?

Resposta:

Primeiro foi na Rádio Record. Eu fui contratada pela Record e fiquei 12 anos lá. Eu cantava, tinha os programas solo e depois cismamos de fazer a dupla, que surgiu em 1954 quando começamos a ensaiar, mas formamos mesmo em 27 de setembro de 1955.

Pergunta: E nos teatros, no cinema, no circo, também houve apresentação?

Resposta:

Cantei em tudo quanto é lugar.

Pergunta: Na região do ABC teve um lugar em especial?

Resposta:

Eu cantava na Rádio ABC e na Rádio Clube. Mas era muito pouco, porque eu viajava muito.

Pergunta: Conta como eram essas viagens. Eram terrestres ou aéreas?

Resposta:

No começo era de trem, de ônibus, de carro, e quando era muito longe, a gente ia de avião.

Pergunta: E como vocês eram recebidos nos lugares?

Resposta:

Nossa!, não tenho queixa. Em todos os lugares que nós estivemos, sempre voltamos.

Pergunta: E havia muito dinheiro ou era só o prazer artístico?

Resposta:

Não. Quando a gente tinha sucesso o dinheiro era bom, dava uma vida confortável para a gente. A gente não guardou muito, mas dava para viver bem.

Pergunta: Você teve alguma experiência de cantar no circo?

Resposta:

Eu cantava em circo, mas muito pouco, porque as nossas músicas eram mais para cinemas, clubes, teatros, boates.

Pergunta: E como era essa vida de artista, considerando os preconceitos que existiam na época em relação à mulher no mundo artístico? Você sofreu algum preconceito?

Resposta:

Não. Nunca sofri preconceito. Sempre fui respeitada. A nossa dupla sempre foi respeitada e nunca tivemos uma coisa que desagradasse.

Pergunta: Você tem composições suas?

Resposta:

Tenho gravadas, por vários artistas, 58 músicas.

Pergunta: Que artistas gravaram suas músicas?

Resposta:

Irmãs Galvão, Irmãs Barbosa, Nelsinho Jorge Arantes, Conjunto Asa Delta, Ataíde e Alexandre com Roberta Miranda, Tonico e Tinoco e vários que não me lembro.

Pergunta: E na televisão, Inezita Barroso? Como ela entrou na sua vida?

Resposta:

A gente quando viajava encontrava muitos artistas e a gente foi se conhecendo. Conheço, para não dizer todos, eu conheço quase todos. Só os mais recentes que conheço só da televisão, porque eu quase não fico no ambiente. Mas os antigos eu conheci todos do Rio, porque viajei muito com essa turma para o Norte e Nordeste. A gente tinha muita amizade.

Pergunta: E você tinha um fã-clube grande? Recebia muitas cartas?

Resposta:

Cartas eu recebi bastante.

Pergunta: Alguma que te marcou em especial?

Resposta:

De fãs, tinha um fã que mandava umas cartas amorosas para mim. Ele era fazendeiro, mas não me lembro se era em Minas ou Goiás, quando eu cantava sozinha. Quando eu montei a dupla ele continuou mandando as cartas, mas meu marido achou ruim. Você pode escrever para ele que você é casada. Tive de escrever para ele não me mandar mais cartas porque meu marido era muito ciumento. Ele tinha ciúmes até da minha sombra. Então, foi esse um caso.

Pergunta: E essa música "Encosta sua cabecinha no meu ombro e chora"? Fala um pouco dela.

Resposta:

Quer que eu conte a história dela? Nós fomos fazer um show em Campo Grande e lá era um show no cinema do Duo Guarujá e Alcides Geralde. E o Alcides Geralde... Ele cantou, mas ninguém tomou conhecimento porque a primeira vez que você canta uma música, a turma aplaude. O Armando falou que a música era boa e queria a música. Como eu tinha um ouvido que era uma coisa, ele cantou e eu já aprendi a melodia, ele me deu a letra. Como eu gravava na Gravadora Continental, eu tinha de fazer em 78 rotações, rápido. O Armando chegou para o Ernane, que era diretor artístico e disse que tinha de gravar uma música e ele falou que era do Alcides Geralde, que ele já tinha gravado mas não tinha saído o disco. O Alcides era do Rio de Janeiro. Ele nem ouviu a música, mas deixou gravar. Nós gravamos e o nosso disco saiu primeiro do que o do Alcides. Ficou tão bom que o diretor ficou entusiasmado e soltou o disco antes. Até o Alcides ficou enciumado, porque nós ganhamos até o Prêmio Chico Viola, que era o prêmio máximo, com essa música. Aí eu ganhei o prêmio. No primeiro mês que eu gravei, eram tantos pedidos que tinham três máquinas trabalhando apenas para lançar o de 78 rotações. E na parada de sucesso, disco de ouro, veio esse Prêmio Chico Viola. Aí saiu o disco do Alcides Geralde no Rio e começou a tocar. Ele ficou enciumado porque ele não ganhou o prêmio. Ele ligou para o diretor e falou que ele tinha mostrado a música. Então você vai ganhar o prêmio. Ele veio receber o prêmio no teatro em São Paulo. Ele cantou primeiro, agradou. Agora vocês vão ouvir com o Duo Guarujá, à moda deles, "Cabecinha no Ombro". Foi um estouro.

Pergunta: Essa composição é de quem?

Resposta:

Paulo Borges, que nem conheço, nunca ouvi falar. Era do Rio de Janeiro. Nunca mais apareceu.

Pergunta: Vamos cantar um pouco essa música?

(Música "Cabecinha no Ombro")

Pergunta: Qual era a diferença, você se apresentou nas rádios e na televisão também, mas qual era a diferença em se apresentar nos programas da rádio e nos programas da televisão?

Resposta:

Na rádio, aquele tempo, antes da televisão, o rádio até na roça tinha, era mais ouvido.

Pergunta: O artista era mais famoso?

Resposta:

Era mais famoso. Quando a gente ia fazer show num circo, os caras andavam quilômetros para assistir um show da gente. Chegavam aqueles caminhões cheios, aqueles carros de boi da roça, porque eles vinham mesmo assistir. Eles ouviam, porque não tinha televisão. Mesmo depois da televisão, não era todo mundo que tinha televisão na roça. Era difícil. A diferença era isso.

Pergunta: Quando a televisão surge, como foi para o cantor de rádio se adaptar ao espaço da televisão? Você se apresentou em televisão? O que você sentiu de diferença do rádio para a televisão?

Resposta:

No começo você fica meio assim, porque quando você faz um show com o público é diferente, porque você está vendo o público. Na televisão daquele tempo não tinha público, pelo menos quando nós começamos. Eu comecei na Televisão Record mesmo. Você fica meio engraçado. A gente não sabe explicar, mas é diferente.

Pergunta: Quando você trabalhou na rádio do ABC, descreve como funcionava a sua apresentação. Eles convidavam?

Resposta:

Eles convidavam.

Pergunta: Tinha auditório?

Resposta:

Pelo menos a ABC tinha um auditório grande. Eles convidavam e pagavam cachê. Hoje você faz mil programas, mas é tudo no peito. Eles não pagam nada. Até uns 26 anos atrás, que foi quando meu marido morreu, a gente ainda ganhava para fazer televisão e rádio. Depois morreu o cachê.

Pergunta: E os direitos autorais de tantas composições, você recebe?

Resposta:

Recebo. Quando a música, como essa que eu gravei, eu tenho uma música que se chama "Chora Minha Viola", que foi gravada com Ataíde e Alexandre, com a participação da Roberta Miranda e gravei também com Tonico e Tinoco a mesma música, que foi a última música que o Tonico gravou, porque logo ele faleceu e foi gravada primeiramente com Monetário e Financeiro, uma dupla nova, eu recebi bem, porque vendeu bastante, tocou bastante. Mas as outras foram mais antigas, então eu recebo um pouco. A cada três meses vem um pingadinho.

Pergunta: Você tem alguma lembrança, durante seu tempo de cantora, da ditadura militar interferindo no campo artístico?

Resposta:

Naquele tempo eram censuradas as letras.

Pergunta: Você teve alguma letra censurada?

Resposta:

Não, porque ainda não compunha. Mas meu marido compôs uma música, porque todas as músicas iam para lá para depois a gente gravar e uma foi censurada.

Pergunta: Por quê?

Resposta:

Porque falava em presidente. Hoje está tudo bagunçado.

Pergunta: Como vem a inspiração para você fazer tantas composições assim?

Resposta:

É inspiração mesmo.

Pergunta: E você escreve no meio da noite, de dia?

Resposta:

De madrugada eu levanto, pego o gravador e gravo. Nós sempre tivemos um gravador pequeno. Mas quando eu tinha meu marido, ele tinha ciúmes até das músicas que eu fazia. Então, tem várias músicas que eu fazia, por exemplo uma que era para mulher cantar, ele queria que transportasse para homem cantar. Mas não dava a letra. Agora eu sou sozinha e levanto a hora que quero, me vem na cabeça e vou lá e gravo a música, para não esquecer. Antigamente eu ficava cantando, porque eu viajava e meu marido não gostava de rádio e nem de conversa, porque a gente viajava de noite e eu vinha do lado matutando, fazendo músicas. Quantas músicas eu fiz na estrada. Quando chegava em casa eu já estava com tudo na cabeça, sem escrever. Era assim que eu fazia.

Pergunta: A dupla gravou também bastantes músicas do senhor Tonelo e do Varole?

Resposta:

Eu gravei do Varole e do Tonelo. Do Tonelo só foram duas e do Varole gravei seis músicas.

Pergunta: A senhora pode cantar um trecho de uma delas?

(Música "A Primavera Voltou", de Varole)

Pergunta: Do senhor Tonelo a senhora gravou uma bastante conhecida "Para Carregar Saudades". Canta um trecho?

(Música "Para Carregar Saudade", de Tonelo)

Pergunta: E filhos?

Resposta:

Não tive filhos.

Pergunta: E a vida da artista? Você ainda tem vida ativa como artista?

Resposta:

Tenho. Depois que meu marido morreu, eu cantei um pouco sozinha, e aí eu conheci a Nanci, que agora canta comigo. Ela veio de Marília me procurar. Ela tinha um duo lá e veio na minha casa me procurar. Como eu estava sozinha aceitei fazer a dupla. Começamos a ensaiar, dei umas coordenadas para ela e como eu gravava na Continental por 8 anos, eles falaram que iam fazer um disco com a gente. Mas saiu pelo selo Chantecler, porque ela passou para a Continental. A gente gravou um LP, viajamos, mas ela tinha um companheiro que não a deixava viajar, brigava muito, ela vinha em casa ensaiar e depois de um tempo ele vinha buscar e a gente não tinha sossego. Ela parou. Me apresentaram um outro parceiro, que até dois anos atrás cantava comigo. Eu fiz dois LPs com ele e um CD, que se chamava Flecha Navarro. Ele era cantor da noite. Ia muito bem, mas dois anos atrás ele ficou doente e foi morar no interior com a senhora dele. Ele morava em São Paulo, eu em Santo André, e a gente só se encontrava no escritório do empresário para ensaiar e fazer shows. Eu já estava meio parada, não querendo mais continuar, porque hoje está uma máfia danada esse negócio de música.

Pergunta: Você não atua hoje?

Resposta:

Agora estou de novo. Como essa Nanci não sai da minha casa, ela falou para a gente cantar de novo. Começamos a ensaiar, já gravamos duas músicas e estou preparando o CD e fazendo shows por aí.

Pergunta: E onde vocês fazem shows hoje?

Resposta:

Estou fazendo em teatros, em praça pública. Agora estou para fazer televisão de novo, porque fiz muito o programa da Inezita. Agora eles vão me escalar outra vez e vou aparecer por aí.

Pergunta: Esses shows em teatros e praças públicas são em São Paulo. Aqui no ABC tem alguma programação?

Resposta:

Aqui no ABC fiz há pouco tempo, contratada pela Prefeitura. Fiz no teatro em São Bernardo do Campo e estamos aí.

Pergunta: Na época que a senhora cantava em rádio, qual era a diferença entre cantar nas rádios de São Paulo e nas rádios do ABC? A senhora sentia diferença?

Resposta:

Eu acho que no interior a gente é mais aplaudida. O povo do interior é mais aconchegante.

Pergunta: Interior que a senhora diz é no ABC?

Resposta:

Não. Interior de São Paulo, mas aqui também era ótimo.

Pergunta: Mas havia alguma diferença entre as rádios de São Paulo e as rádios no ABC? Infra-estrutura, recepção, retorno, tinha diferença ou era igual?

Resposta:

Era igual. Não acho diferença.

Pergunta: E o cachê que eles pagavam nas rádios do ABC era igual?

Resposta:

Aqui não pagavam nada. Agora não pagam nada, mas antigamente pagavam. Eu recebia cachê para fazer televisão, programa de rádio. O programa do gago, que foi muito famoso, que era na Rádio Nacional de São Paulo, ele convidava o Duo Guarujá para fazer o programa dele e ele pagava cachê para nós. O Armando dizia que sem dinheiro ele não iria.

Pergunta: Duas coisas. Ou você termina cantando uma música... Nós pedimos sempre uma mensagem final para a gente encerrar ou você canta uma música. Você decide.

Resposta:

Só quero agradecer essa oportunidade e posso terminar cantando. Tem a música "História de um Amor" com que ganhei o Prêmio Roquete Pinto. Esse ano que ganhei fui receber no Teatro Municipal de São Paulo, em 1956, como melhor dupla de 1956, no começo de 57 eu recebi. Tinha três músicas na parada de sucessos, uma canção rancheira chamada "Eu", versão de Juraci Rava, "História de um Amor", e uma música italiana, do segundo disco que eu gravei. Eu ganhei o Roquete Pinto com três músicas na parada de sucessos.

(Música "História de um Amor")

Pergunta: A senhora quer deixar uma mensagem final?

Resposta:

Agradeço a oportunidade e deixo um beijo para meus ouvintes.



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